“Palavras. Gosto de brincar com elas. Tenho preguiça de ser sério.”Manoel de Barros
Nunca gostei de poesia chata.
Quem procura rima, perde o sentimento e não escreve mais com o coração,
e por isso, perde também o principal da sonoridade, perde o arrepio da poesia.
Infelizmente, poetas profissionais são chatos mesmos.
Prefiro ler os quadrinhos do jornal.
Pior do que uma poesia cheia de palavras difíceis e significados para lá de escondidos, só mesmo,
uma poesia em silêncio, na tristeza solitária da página em branco.
Conto nos dedos da mão os poetas e poetisas de quem realmente gostei, e que me emocionaram de verdade.
Nunca liguei para a origem, estilo, objetivo ou idade,
Poesia para ser boa, basta cair bem aos ouvidos e aos poros.
Afinal, poesia se sente no levantar dos pelos do braço.
Quando não ocorre, não era poesia.
Eram só palavras preenchendo um vazio que o poeta sentiu,
compartilhou, mas não encantou quem ouviu.
Só descreveu um sentimento seu.
Não fez poesia.
Manoel fez. E muita.
Escreveu poesia com emoção, verdade e muita beleza.
Conseguiu fazer da simplicidade, uma qualidade requintada … enfim
Foi um poeta.
E por isso, sai hoje da vida efêmera da carne,
para a imortalidade da História do Pensamento Humano.
Enquanto outros poetas sairão das prateleiras por obrigação acadêmica,
Manoel de Barros, sempre sairá, pelo prazer de uma boa leitura.
Paul Sampaio – 17:27 – 13/11/2014 – Bauru, 32ºC
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916 – faleceu em 13 de novembro de 2014 em Campo Grande (MS).
Advogado, fazendeiro e poeta.
- Quando meus olhos estão sujos da civilização, cresce por dentro deles um desejo de árvores e aves.
- Tenho gozo de misturar nas minhas fantasias o verdor primal das águas com as vozes civilizadas.
- – Trecho de Narrador Apresenta sua Terra Natal- Em Manoel de Barros – Poesia completa . Editora Leya, 2010 – p. 199.
- “Tudo o que não invento é falso.”
-
- – Em Memórias Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros – Editora Planeta, 2008
- “Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação.”
-
- – Trecho de Manoel por Manoel em Memórias Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros – Editora Planeta, 2008, p. 11.
- Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
- Porque eu não sou de informática:
- eu sou da invencionática.
- Só uso a palavra para compor meus silêncios.
- – Trecho de O apanhador de desperdícios em Memórias Inventadas – As Infâncias de de Manoel de Barros – Manoel de Barros – Editora Planeta, 2008, p.45.
- Daí que também a vó me ensinou a não desprezar as coisas desprezíveis
- E nem os seres desprezados.
- – Trecho de Obrar em Memórias Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros – Manoel de Barros – Ed. Planeta, 2008. p. 23
- “Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu
- tenho profundidades.”
- – Em Manoel de Barros – Poesia completa – Editora Leya, 2010. Entrada.
- Sou livre
- para o silêncio das formas
- e das cores.
- – O Livro de Bernardo em Manoel de Barros – Poesia completa – Editora Leya, 2010, p.416.
- Palavras
- Gosto de brincar com elas.
- Tenho preguiça de ser sério.
- – O Livro de Bernardo, pág. 419 em Manoel de Barros – Poesia completa – Editora Leya, 2010.
- Agora eu penso uma garça branca de brejo ser mais linda que uma nave espacial. Peço desculpas por cometer essa verdade.
-
- – Sobre sucatas em Memórias Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros – Manoel de Barros – Ed. Planeta, 2008, p.63.
- Tenho o privilégio de não saber quase tudo.
- E isso explica
- o resto.
- – Caderno de Aprendiz em Manoel de Barros – Poesia completa – Editora Leya, 2010, p. 461.
- (…) E aquele
- Que não morou nunca em seus próprios abismos
- Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
- Não foi marcado. Não será marcado. Nunca será exposto
- Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.
- – Zona Hermética em Manoel de Barros – Poesia completa – Editora Leya, 2010, p.82.
fontes
Biografia de Manoel de Barros na WKIPÉDIA
Citações de Manoel de Barros na WIKIQUOTE